Aspectos Relevantes no Tratamento Medicamentoso da Hepatite C Relacionados a Transtornos Mentais
Autores: Geísa Marie Bernardino Felicíssimo e Júlia Petrocchi - Acadêmicas do 8° período de Medina da Faculdade de Medicina da UFMG
A
hepatite C é uma das principais causas de doenças hepáticas crônicas no mundo e
atinge principalmente uma população jovem, entre 30 e 40 anos de idade.
A
medicação utilizada - interferon alfa (ou interferon alfa peguilado) e
ribavirina - tem sido associada a sintomas psicológicos e transtornos mentais,
que podem ter um impacto negativo sobre o curso da doença e levar à interrupção
do tratamento. Depressão, ideação suicida e transtorno de estresse
pós-traumático são alguns dos problemas relatados durante o uso das drogas
recomendadas. Assim, psicólogos e psiquiatras têm sido solicitados a avaliar
estes pacientes antes do início e durante o tratamento, para monitorar sintomas
psicológicos e intervir quando necessário.
O
estreito contato com o sistema de saúde, necessário para diagnóstico e
tratamento do problema, os custos, as mudanças no estilo de vida, a preocupação
com a evolução da doença e com o futuro, têm importante impacto sobre a vida
destes pacientes. Além disso, os efeitos colaterais da medicação atualmente
utilizada no tratamento da hepatite C pode reduzir de forma significativa a
qualidade de vida.
A
presença de sintomas psicológicos concomitantes ao tratamento, muitas vezes em
número suficiente para a realização do diagnóstico de um transtorno mental,
pode ter um impacto negativo sobre o curso da doença, prejudicando a adesão,
exacerbando a percepção dos sintomas, reduzindo ainda mais a qualidade de vida
e, em alguns casos, levando ao suicídio.
A
preocupação com a possibilidade de transtornos mentais e a redução na qualidade
de vida associada ao tratamento da hepatite C têm levado profissionais da área
médica e equipes interdisciplinares a solicitarem, rotineiramente, uma
avaliação psicológica anterior ao tratamento. Entretanto, os conhecimentos
atualmente disponíveis nesta área ainda são limitados, tornando necessário
realizar pesquisas que possam auxiliar na compreensão e manejo adequados do
problema por parte dos psicólogos que atuam na saúde.
TRATAMENTO HEPATITE C
Atualmente,
o interferon alfa (IFN alfa) é considerado, isoladamente ou em associação com a
ribavirina, a estratégia terapêutica recomendada para a maioria dos pacientes
portadores de hepatite C. O tratamento com interferon alfa e ribavirina pode
erradicar o vírus em 40% dos pacientes e a combinação do interferon peguilado
com ribavirina em 54 a 56% dos pacientes.
Sintomas psicológicos no tratamento com o interferon alfa
Como
falado acima, diversos estudos têm indicado que o IFN produz efeitos colaterais
graves, embora reversíveis, como depressão, ideação suicida, sintomas de
transtorno de estresse pós-traumático e transtorno bipolar.
É
interessante notar, entretanto, que nem todos os pacientes tratados com IFN
apresentam sintomas psicológicos ou um diagnóstico de transtorno mental
associado ao uso da medicação. Pacientes com história de transtorno
psiquiátrico, como abuso de substância, parecem ter um risco aumentado para
depressão
durante o tratamento com
IFN, tornando possível pensar que um transtorno mental anterior pode aumentar a
vulnerabilidade para depressão com a utilização da medicação. Por outro lado, é
possível pensar também que características individuais ou estratégias
específicas de enfrentamento podem proteger o paciente.
ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO PODEM FAZER A DIFERENÇA
Um
estudo realizado para identificar sintomas de depressão e estratégias de
enfrentamento, realizado com 30 pacientes com diagnóstico de hepatite C,
indicou que aqueles que utilizavam principalmente estratégias como resolução de problemas, reavaliação positiva da situação e busca de suporte social auxiliavam o
paciente a enfrentar eventos negativos com menor grau de sofrimento e maior
eficiência no tratamento e cura. O contrário se observou naqueles em que a fuga, ou afastamento ou a acomodação/aceitação
foi a estratégia de enfrentamento da doença.
Tais
considerações nos mostram a importância da abordagem interdisciplinar, com
ênfase na psicológica e psiquiátrica para o sucesso no tratamento e para a
cura. O paciente deve confiar no tratamento e na equipe, além de aderir a
estratégias de enfrentamento comprovadamente eficazes para a cura, baseadas na
resolução de problemas, na aceitação do suporte social como a participação
ativa em grupos operativos e procurar ter uma reavaliação positiva da situação.
Para isso, o paciente deve estar devidamente bem informado sobre sua doença e
sobre as boas perspectivas de cura.